sábado, 25 de outubro de 2014

[COLUNA] O Mundo Secreto da Princesa Vick

  Oi gente! Desculpem o sumiço das colunas, mas escrever texto dá muito trabalho e leva tempo (o que eu não tive ultimamente). O que importa é que a última coluna do mês de outubro vai falar sobre no que deu aquele projeto que eu queria fazer com as crianças do meu condomínio, um incentivo à leitura. Quando falei sobre a ideia, comentei que seria realizado no próprio dia das crianças, mas então uma série de circunstâncias mudou meus planos. 

Princesa Vick:
A mais nova contadora de histórias do pedaço

  Acontece que, no meu colégio, estava acontecendo a terceira Fecemdom (Feira Científica do Empreendedor Mirim) e uma das empresas era a Corujoteca, onde as crianças estavam, junto aos professores, vendendo livros infantis. A faixa etária deles é de dois e três anos e são muito fofos! Então a minha mãe teve a ideia de fazer de mim uma contadora de histórias por um dia. Aceitei, pois além de amar contar histórias e as próprias histórias, daria um bom projeto de incentivo à leitura. Porém eu precisava me adequar à situação. Para isso, alugamos uma fantasia de princesa com direito a coroa e a um par de luvinhas. A partir de então, dentro daquela roupa eu era a Princesa Vick. Até banner meu teve:




  Chegou a sexta feira, dia 10 de outubro. Sendo o último de feira, havia uma multidão no ginásio do colégio e no meio dela, uma princesa toda requintada se dirigia à Corujoteca, onde um grupo de pequenos aguardava pacientemente a chegada da Princesa Vick. E quando cheguei, gente, foi muito lindo! Eles me receberam com abraços, timidez e muitas perguntas. As professoras do Maternal logo empilharam um monte de almofadas no tapete onde eu me sentei. A saia longa do vestido se esparramava a minha volta, dando a impressão de que eu estava naqueles filmes americanos sobre princesas. Foi muito mágico!

  A primeira história escolhida foi a da Branca de Neve. As crianças sabiam o enredo quase de cor e ainda por cima havia uma garotinha fantasiada de Branca de Neve - fofura em pessoa. Ela se sentou ao meu lado como "a convidada de honra da Princesa" e me ajudou a contar a história. Fizeram questão de pôr um microfone na minha mão e logo a minha voz era ouvida na feira inteira. Não demorou muito para que outras crianças de outras séries aparecessem, curiosas com aquela princesa que não reconheciam de nenhum livro, mas que ainda assim contava as histórias que eles tinham aprendido a amar. 

  Mal acabei a história da Branca de Neve pediram-me outras. A Bela Adormecida ganhou sua vez, assim como Os Três Porquinhos. Quando se cansaram de ouvir histórias, ficaram assoprando bolhas de sabão comigo e soltavam gritinhos de euforia sempre que elas voavam o suficiente para que se perdessem de vista. Aproveitei a oportunidade para dizer que as bolhas de sabão conseguiam voar porque havia fadinhas minúsculas dentro delas, que morriam sempre que estourávamos-nas. Logo, as crianças pediam para a fada desviar dos obstáculos no meio do caminho e eis o motivo da euforia quando as bolhas iam longe. Honestamente, eu não trocaria esse momento por nada nesse mundo.

  Quando ficou quente demais e elas começaram a sofrer no estande, fui com elas para a sala de avaliação, onde havia ar condicionado e um tapete ao fundo com dados para as crianças brincarem. Ficamos por lá tempo suficiente para minha mãe bater muitas fotos e os pequenos fazerem muitas perguntas. Teve até uma situação que eu preciso compartilhar com vocês. Havia uma garotinha, talvez de quatro aninhos, que chegou rebolando com a mãozinha na cintura e algumas amigas atrás dela. Parecia desconfiada. Eu estava conversando com a Alice sobre como era o meu mundo secreto e comentava com ela que nesse meu mundo eu tinha uma amiga chamada Alice, que era tão curiosa que caiu dentro de uma toca ao correr atrás de um coelho branco. A garota pediu licença e me perguntou se eu era a tal princesa que estava contando histórias na feira.

  - Sim - respondi. Ela ainda me olhava ar de desconfiança.

  - Então cadê o seu príncipe?

  Engoli em seco e tratei de pensar rápido. Cara, não estava preparada para uma pergunta daquelas!

  - Bem, ele gosta muito de cozinhar, sabe? Como ele insistiu em fazer o jantar, deixei-o cozinhando lá no meu castelo.

  Ela espremeu os olhos.

  - Ah. Então você tem um castelo.

 - Sim.

 - E onde fica?

  - Olhe só, fica um pouco longe daqui. Mas se você quiser, eu te levo lá algum dia para você conhecer.

  - Rá! Eu já ouvi essa história. Você não tem castelo coisa nenhuma; é a sua casa! Você não é uma princesa. Olha aqui - ela ergueu um pouco da minha saia, deixando a minha sapatilha Carmen Steffans à vista -, você está usando um sapato que eu também tenho. Princesa não usa Carmen Steffans, usa salto alto. 

  Eu ri.

  - Bem, eu sou uma princesa diferente. Lá no meu reino, todas as princesas usam salto alto, mas ele machuca os meus pés e faz com que eu tenha que me equilibrar sobre eles. É por isso que eu uso sapatilhas.

  - Ah - ela respondeu. Demorou um pouco para acrescentar: - Se for assim, posso ser sua amiga também?

  Respirei aliviada e disse que claro, ela podia ser minha amiga. Voltei para casa exausta, louca por um banho e uma cama, mas nada nesse mundo substitui o que eu vivi naquela manhã. Muitos dias depois, a escola lançou sua revista. E não é que teve foto minha também? Olhem só o que diz sobre mim:



 A fantasia foi devolvida, a feira acabou e aquela foi minha única apresentação até agora. Mas acho que a partir daquele dia, parte de mim sempre será a Princesa Vick. Experiência única!

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