quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

[COLUNA] O que uma leitora tem a dizer sobre o resultado das redações do ENEM

  Oi galerinha, como estão? Hoje passo aqui para falar de um assunto que assustou o Brasil inteiro nos últimos dias. Eu, como leitora, me sinto quase que na obrigação de dizer qual foi minha reação ao me dizerem que esse país está precisando urgentemente de mudanças, principalmente no ramo da educação: eu já sabia.

  Resultado da Redação do ENEM:
 Quando abriremos os olhos?


  Acho que tenho uma forma mais simples de expor a situação na qual fomos flagrados: sabe-se que, no ENEM de 2014, 529.000 candidatos ZERARAM a redação da prova. Trazendo isso para uma situação do cotidiano, esse é o dobro do número de habitantes da cidade onde vivo atualmente. É gente demais! Estou ciente que muitos obtiveram essa nota por causa da ambiguidade que o tema sugerido apresentou. Alguns interpretaram "Publicidade Infantil em Questão no Brasil" como a criança realizando publicidades, quando no entanto o tema se referia, basicamente, à influência que propagandas destinadas às crianças têm sobre esse público. Porém essa não é a melhor desculpa. Os olhinhos atentos à situação da educação brasileira, mais precisamente do incentivo à leitura, sabem que não é bem assim. Sempre teremos aqueles que zerarão a redação, mas acho que os resultados de 2014 vieram para provar que algo precisa ser urgentemente ser feito. 

  Acerca disso, a escritora e professora Marina Carvalho publicou em uma rede social:

  "Para refletirmos: O filho pede um iphone e o pai dá; o professor indica a assinatura de uma revista ou jornal de qualidade e o pai diz que é caro. O filho quer uma mochila da Kipling ou a chuteira da moda e a mãe compra; o professor adota sete livros de leitura obrigatória no ano e ela manda avisar que está demais. O filho ganha uma viagem ou uma festa de arromba para comemorar os 15 anos — os pais bancam com satisfação; o professor organiza uma excursão a um museu fora da cidade e eles alegam que o preço da viagem é alto demais. O filho quer fazer medicina, direito ou engenharia, mas zera a redação do Enem; a família joga a culpa na escola, que deveria criar maiores oportunidades de aprendizado. E agora? Trata-se de um problema de coerência?"

  Disse tudo. Concordo plenamente. É fato que o Brasil leitor mostra-se cada dia mais presente, mas há ainda muito a ser feito para que vexames como esse não venham a se repetir futuramente. Poxa, os pais são as pessoas que estão mais próximas dos filhos em questões escolares (ou ao menos deveriam ser; muitas vezes o professor substitui esse cargo) e têm a obrigação de guiá-los no caminho correto para que um dia sejam alguém nessa vida e saibam se virar. O ENEM é uma ótima oportunidade para quem procura uma faculdade bacana e não tem lá muitas condições para bancá-la, mas o bom resultado não aparece num truque de mágica. É necessário estudar muito, se dedicar e entender que essa prova é um futuro inteiro sendo colocado em nossas mãos. A redação tem o maior peso na hora de somar seus pontos e qualquer um que vai fazer a prova sabe disso. No entanto, é preciso estar pronto para encarar, e quando digo pronto me refiro principalmente ao incentivo que esse aluno receberá.

  Sou suspeita para falar porque além de ser uma viciada em livros, tenho minha mãe trabalhando no meu colégio e conhecendo todos os anos as preocupações dos alunos que farão o exame. Desde que aprendi a ler e a escrever (aos quatro anos), meus pais vêm investindo rigorosamente em mim, sempre me incentivando a ler, ler, ler, escrever, escrever, escrever... Tanto que hoje já estou até desenvolvendo meu próprio livro rsrsrs. 



  Agora vem o momento daquela pergunta capciosa: Vick, sendo você uma garota de doze anos, o que pode dizer ou deixar de dizer sobre um assunto tão complexo? É exatamente aí que quero chegar. Falar do que nossos estudantes estão provando é um tanto difícil, ainda mais considerando que está complicado explicar o que de fato houve. A verdade é que essa semente deveria ter sido plantada lá no início, na formação do aluno. Conseguir uma nota boa numa redação do nível do ENEM é algo que deve ser moldado desde a infância e eu me desespero ao ver como essa geração de crianças está sendo preparada. Infelizmente, meus caros, vivemos num país onde a educação é uma prioridade abaixo da corrupção e olhadas para o próprio umbigo na pirâmide hierárquica brasileira. Temos pessoas realmente preocupadas com o futuro dessa nação e que estão dispostas a investir na leitura desde a segunda infância, mas é preciso lembrar que uma andorinha só nos faz verão. Chegou a hora do Brasil inteiro se levantar numa só voz e clamar por nossas crianças, educá-las com dedicação, investir nelas com sabedoria, sinceridade e preocupação, já que, no fim das contas, são elas o futuro desse país!

  Sei que nós, no papel de leitores e pregadores da leitura, podemos fazer muito nesse quesito. Ninguém melhor que nós mesmos para propagar a leitura pelo Brasil afora e espalhar para todos que quiserem ouvir que Redação é uma disciplina tão importante quanto Matemática, Física ou Química. Que um resultado tão alarmante como esse pode ser evitado e erradicado utilizando-se os métodos corretos. Que incentivar a leitura em nossas crianças, é mais que uma necessidade, um dever.

  Nada está totalmente perdido. Embora sejam pouquíssimos, ainda existem aqueles que alcançaram 1.000 pontos na redação. São em pessoas como essas que devemos nos espelhar, é assim que queremos ver os futuros jovens brasileiros se saindo mais para frente. É assim que um Brasil desenvolvido deve ser.

  Termino essa coluna deixando a fala de Iris Figueiredo, em resposta à publicação de Marina Carvalho:

  "A Marina Carvalho disse tudo! Vejo muitos pais se preocuparem com a nota dos filhos em matemática ou biologia, mas não dar atenção às linguagens e produção de texto. Muitos alunos que não tem o menor domínio da língua, de coesão e coerência e que não se importam em ler, estar em dia com as notícias etc., porque não acha importante. A redação é um dos maiores problemas para vários alunos que prestam Enem. Mas falta incentivo. Pais, cultivem em seus filhos o hábito da leitura desde cedo. Quem lê desenvolve pensamento crítico, aprimora a língua e escreve melhor. E isso é essencial em qualquer profissão: se fazer entender. Vamos valorizar mais essa área!"

  E então? Quando abriremos os olhos para nossa situação?

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