quarta-feira, 5 de novembro de 2014

[RESENHA] O Rosto que Precede o Sonho

  Título: O Rosto que Precede o Sonho
  Autor: Maurício Gomyde
  Editora: Porto 71
  Páginas: 176
 Sinopse: Os sinais que ele não percebeu, no dia do acidente, poderiam ter evitado que seus pais entrassem naquele avião. Tempos depois, algo inesperado mudou o rumo das coisas, e ele, então, passou a esperar o dia em os sinais voltariam... Tomas Ventura levava quase uma vida perfeita, cercado por tudo que sempre quis: um violão, um telescópio, muitos discos  bons, amigos, um emprego dos sonhos e uma casa que flutuava. Mas no dia em que recebeu a proposta de trabalho da sua vida, o convite para participar da trilha sonora de uma grande filme de Hollywood, ele decidiu dizer "não". Até que dois sinais, os olhos cor de mel daquela menina, mostraram-lhe que ainda havia motivos para seguir em frente...
  O que eu achei: haviam me falado muito bem de O Rosto que Precede o Sonho, o que me fez criar um monte de expectativas. Elas me assustam, pois várias vezes resolveram aparecer e me frustraram. Mas nesse caso foi diferente. As expectativas me levaram de encontro a um livro lindo, que consegue mexer com os sentimentos mais profundos do leitor. Me senti mexida com a leitura porque vários aspectos do livro de repente coincidiam com a minha vida, como se Maurício tivesse escrito o livro pensando em mim. Sei que muita gente já teve essa sensação ao ler algum livro especial, mas o que eu senti com O Rosto que Precede o Sonho foi muito intenso. Aquela magia que tanto tinham me falado realmente deu as caras no livro, o que me deixou finalmente muito realizada.



  Para começar, O Rosto nos apresenta uma história diferente do usual, principalmente por causa do lance dos sinais. Tomas, nosso protagonista, é um famoso músico, mais reconhecido pelas trilhas sonoras de filmes que fez. Lembrando que, na Bienal de Sampa deste ano, o Maurício revelou que esse livro apresenta uma de suas maiores paixões: a música. E a história tem um foco nisso mesmo. Há várias cenas, inclusive a primeira, onde Tomas está falando sobre música ou fazendo música. É ela mesma que será o palco do primeiro encontro de Tomas e Aurora, a menina dos olhos cor de mel. Uma discussão idiota por um disco que nenhum dos dois sequer sabia do que se tratava fez com que essas duas pessoas sem ligação nenhuma se vissem e se apaixonassem. Só que Tomas ainda tem assuntos pendentes consigo mesmo...

  Ele guarda uma culpa angustiante pela morte repentina dos pais, já que os sinais que ele percebeu no dia do acidente de avião poderia evitar as perdas trágicas. A presença de Aurora traz muitos desses sinais. E é aí que se inicia um dos maiores prodígios de Maurício Gomyde.

  Admito que suspirei quando vi que o livro era tão pequeno. Não conseguia imaginar todo aquele espetáculo que me diziam em tão poucas páginas. Ao conhecer a história, no entanto, vi que o número de páginas de um livro não tem nada a ver com seu conteúdo, até porque Maurício conseguiu fazer mágica com uma frase, uma cena. Sua escrita está mais aprimorada que nos livros anteriores; mudanças são notadas na forma como as cenas são conduzidas, nos diálogos dos personagens, na história em si. Gomyde, mais uma vez, guiou seus leitores numa história de amor linda e complexa, onde o sentimento não tem limites. Acho que um dos fatores que modelou esse sentimento profundo, foram as paixões de cada protagonista: Tomas com sua música e Aurora com sua borboletas, que ainda aparecerão muito no caminho do rapaz...

  Outro ponto que me chamou a atenção foi a intensa presença dos personagens secundários, em especial os "vizinhos de condomínio" de Tomas. Vale ressaltar que ele mora em um barco, sua casa flutuante. Outras pessoas também vivem na mesma situação, no mesmo lugar que ele, por isso que os chamamos de vizinhos de condomínio. Até mesmo reuniões desse tipo há. Durante toda a trama, esses personagens marcam seu lugar na história, aparecendo sempre nas horas que lhes convém. Estão sempre ali, de modo que quando lembramos do livro, é impossível não lembrar-se deles.

  Gomyde conduziu O Rosto de uma forma original. As páginas voaram sem que eu tivesse noção disso e as horas pareceram eternas, enquanto eu me deixava mergulhar nesse enredo super fácil de se imaginar virando filme. Na verdade, acho que todos os livros do Maurício se encaixariam facilmente nas telonas, pois o autor cria trilhas sonoras para seus livros e acho que, sendo essa exatamente a ocupação de Tomas, é por isso que a história e seu escritor casaram tão bem. A curiosidade do leitor para desbravar terrenos desconhecidos da obra o encaminha a um final tortuoso, que, provavelmente, Maurício escreveu num dia que estava muito chateado com alguém, porque é de arrancar lágrimas. Foi surpreendente, embora Maurício deixe pistas do que está ocorrendo ao longo do livro, Infelizmente, só percebi isso nas últimas páginas, o que tornou o baque ainda maior. De certa forma, foi um dos únicos desfechos inesperados que me agradou, pois chegou num momento no qual repensar toda a vida - nossas escolhas, desejos e prioridades - foi uma espécie de terapia.

  Invariavelmente, Maurício está de parabéns por mais essa história. Podem chegar até mim e me perguntar o que eu sei, sendo uma blogueira iniciante. O que eu sei? De nada (quem sabe?), além de que sei reconhecer uma história boa quando encontro uma. Queria conhecer mais escritores que soubessem escrever como esse cara. Mas, bem, serei obrigada a dizer novamente que esse dom é particularidade de Maurício Gomyde. Super recomendado!

Avaliação:
5 estrelas!!!
<3



  

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